Qualquer tema que o articulista escolhe é espinhoso. Sem pretender fazer trocadilho, espinhoso é até falar de rosas. Você escreve uma coisa e o vulgo entende diferente. Você elogia e um outro entende que é ironia. Expõe o tema mas não expõe seu ponto de vista e o leitor diz que você está em cima do muro. O jornalista está exposto a todo tipo de ataque. Fazer o quê? Parar de escrever? Se formos deixar de realizar qualquer tipo de trabalho, porque haverá sempre quem lhe faça críticas, todos estaremos dando a cara à tapa. Será que alguém na vida conseguiu agradar a gregos e troianos?
Com essa introdução já deixei escapar alguma ideia a respeito da Universidade em si. Escolhi esse tema por vários motivos: por estar familiarizada com o assunto Universidade, porque sei que seu destino nem sempre é compreendido, pelo fato de que nem todas cumprem sua missão e por aí vai.
Não dá para cobrir esse tema em toda sua extensão, entretanto, coloquemos o dedo na ferida, o que leva o leitor a deduzir que nos movem mais as falhas, os defeitos, as mazelas de uma instituição que nasceu para semear benesses, algo bom, útil, necessário, indispensável etc. etc. Ela deve levar ao gosto pela verdade, pela especulação, filosófica, pelo amor à ciência, pela fé na verdade, à liberdade de pensamento e pesquisa, ao espírito de tolerância e cooperação e ao sentido universal que nos leva a falar para todas as épocas e para todos os povos. Transmitir, aperfeiçoar e difundir os valores da cultura.
Esses são apenas alguns aspectos que devem constituir o espírito de uma Universidade. Estará ela cumprindo seu papel? Não vamos além dos passos que nossos pés conseguem dar e fiquemos apenas nas "nossas" Universidades. Estarão cumprindo seu papel? Quando o governo de cerca de dez anos atrás começou a distribuir Universidades à mão cheia, tenho certeza de que os verdadeiros sábios tiveram um arrepio. A melhoria da educação (e a brasileira vem se ressentindo disso desde que o país despontou no mapa) começa pela base, pelos investimentos na educação de quem ainda não sabe usar o lápis, a borracha. Distribuir Universidades de Norte a Sul nem em países desenvolvidos. Por quê? Por muitos motivos.
Em primeiro lugar, a Universidade não é uma instituição para todo alunado. Só deve ingressar nesse tipo de ensino que tem um grau de inteligência acima da média, isto é, a Universidade é um local de estudos para os bem dotados. É destinado aos que têm mérito, inteligência, raciocínio escorreito. A Universidades oficiais não podem ficar por aí distribuindo vagas por cotas, porque se trata de coisa séria, não é leilão onde quem é pobre ou negro tem preferência em virtude de sua condição social. Candidatos de classes mais carentes devem ter mérito para se candidatar a uma vaga e poder acompanhar a marcha dos estudos. Se não usa o raciocínio como "homo sapiens" está fora.
Para quem frequenta uma Universidade em busca de um emprego, existem as escolas técnicas que oferecem oportunidade aos menos dotados para seguir carreiras que não exijam elevado nível mental.
Há um outro problema crucial nesse leilão político de Universidades oficiais. Onde buscar um corpo docente capaz, idôneo, que domine as ciências, seja portador de uma cultura geral à altura da cátedra que vai ocupar? Quando a USP pensou em criar faculdades em São Paulo, tratou de arregimentar um grupo de professores estrangeiros de renomado saber, que acabou impondo métodos de trabalho desconhecidos por aqui e que acabaram servindo de exemplo para as novas turmas que se iam formando. Ou você acha que quanto ao leilão político de Universidades em governos anteriores, havia um corpo de professores à altura do cargo que pretendiam? É por isso que uma grande camada de cidadãos tem hoje curso superior: porque muitas Universidades, cujos professores não estavam à altura, não tinham competência para reprovar senão distribuir notas a torto e a direito, principalmente as instituições particulares, que eram induzidas a não reprovar alunos, a fim de não encarecer o curso.
O tema não se esgota aqui. Esse estado de inquietação intelectual só é possível dentro de uma concepção de vida e uma atmosfera política que não reconhece nenhum valor mais alto que o da pessoa humana e exige que o Estado se subordine à liberdade, desenvolvimento e dignidade do homem. E não é o que está ocorrendo hoje.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP